sexta-feira, novembro 9

Os Professores Sabichões

Foi ontem aprovado em Conselho de Ministros um decreto que define as regras da prova de acesso à carreira de professor, prevendo-se a realização de dois exames para todos os candidatos a docentes.
O Público publica, hoje, uma notícia que dá conta que a Confap – Confederação Nacional das Associações de Pais considera que a prova de ingresso na carreira docente vai fazer uma "triagem" nos candidatos a docentes e pôr fim ao "facilitismo" no acesso à profissão. Puro, engano! Vejamos porquê?
Hoje, estes pais olham para os seus filhos como estudantes do ensino básico ou do secundário, assim defendem melhores condições de qualidade no ensino ministrado, quer sejam das instalações e/ou materiais quer pessoais (pessoal docente e pessoal não docente). Mas, quando estes estudantes estiverem a frequentar um curso universitário, que habilite o seu filho para a profissão docente, perguntar-se-ão se dois exames justificam dois ciclos de estudos com aprovação numa instituição pública ou privada devidamente acreditada.
Neste ponto, a minha posição é convergente com a das estruturas sindicais da Educação que consideram a prova de ingresso na carreira docente como desnecessária e que elas põem em causa a acreditação das instituições do Ensino Superior.

Se existe algum problema na determinação do perfil adequado de professor, este não deve depender de exames mas sim do modo como essas funções são exercidas.
Assim, o Ministério deveria delinear uma verdadeira estratégia de rigor e exigência nos saberes adquiridos nas Escolas, dando um prazo razoável, para que os estudantes se inteirassem que o período de facilitismo acabou. Que façam uma campanha publicitária a preceito.
No dia em que os professores se aperceberem que os governos deixaram de estar interessados apenas nas Estatísticas do Sucesso/Insucesso e reconhecerem que no sistema coexistem bons e maus alunos, os professores poderão desempenhar melhor a sua missão.
Com esta proposta o Ministério apenas mostra que não quer o ónus da culpa de existirem tantos candidatos devidamente habilitados para o exercício da profissão docente, neste momento, atirando essa culpa, aos próprios e aos seus progenitores pela escolha que fizeram. O Eng.ro Sócrates livra-se, assim, dos olhares da opinião pública pois, a taxa de desemprego associada diminui. Quem nunca desempenhou a profissão nunca será designado de senhor professor.

Mas virá o dia, daqui a uns 20 anos, em que terão de oferecer regalias aos candidatos, à profissão, pois ao longo dos anos o seu número vai reduzir drasticamente.
Da minha parte, o Ministério, poderá contar com uma campanha de sensibilização junto dos jovens meus conhecidos alertando-os para o estado da situação e esforçar-me-ei para formar os meus filhos noutras áreas profissionais.

1 comentário:

Anónimo disse...

“Para ensinar há uma formalidade a cumprir – saber.”
Eça de Queirós

“Lá vem a Maria Sabichona com as suas famosas frases lidas ou ouvidas algures.”, pensarás tu ao ler isto. Mas a verdade é que gosto mesmo de frases. As palavras encantam-me. Os significados ainda mais. Por isso colecciono frases de pessoas que um dia pensaram de forma brilhante e que me ensinaram alguma coisa. Não te admires se um destes dias utilizar alguma frase tua que se me tenha afigurado igualmente brilhante. Descansa que vou usar aspas e citar o nome do autor!
Lembrei-me desta frase para comentar o teu artigo. Se em algumas coisas estou de acordo contigo em relação a tantas e tão variadas exigências que vão começar a recair sobre a nossa profissão (algumas delas exageradas, claro), por outro lado não deixo de achar que é preciso realmente imprimir algum rigor e seleccionar bem quem é e quem não é bom professor. E mais: quem pode e quem não deve vir a ser professor. Mas acho, claro, que essa exigência deveria existir também noutros cursos, noutras profissões. É que se há profissões em que tu podes escolher quem te vai servir com o seu saber, outras há em que tens de te sujeitar a quem aparece, a quem lá está.
Vou dar exemplos: se não gostas do teu mecânico, se te enganou ou se não é competente, vais a outro ao virar da esquina. Se não gostas do atendimento no café da tua rua, vais ao da rua seguinte. Concordas? Mas se precisares de ser operado (salvo seja!) muito possivelmente não poderás escolher o cirurgião. Se tiveres que passar numa ponte, não foste tu a escolher os engenheiros que a calcularam ou as pessoas que cuidam da sua inspecção ou da sua manutenção, não sabes nada de nada. É aí que quero chegar em relação à exigência sobre a nossa profissão. Se vires que determinado professor ou professora dos teus filhos é uma pessoa que comete erros científicos, pedagógicos, que dá maus exemplos, etc, o que podes fazer? Denuncia-la? É uma hipótese. Mas possivelmente não o irás fazer. Muda-los de escola? Vais para um colégio particular? Talvez? Mas provavelmente acabarás por reclamar, protestar, resmungar, revoltar-te... e de pouco adiantará...
Vou contar-te duas situações que me foram recentemente relatadas. Numa festa de casamento, estavam familiares meus que ouviram um jovem senhor professor dizer a quem lá estava e quis ouvir que não é capaz de ir dar aulas sem ter fumado o seu “charro”, que quando não o faz não aguenta os putos, que já os alunos lhe têm dito: “Então stôr, parece que hoje não fumou o seu “charrinho”...”. Outro jovem senhor professor, este não colocado, concordou e disse que não consegue começar as explicações sem antes se preparar da mesma maneira, caso contrário não tem paciência para aturar os putos. Noutra conversa, uma jovem enfermeira pediátrica relatava que passa noites em branco em discotecas e depois chega a casa, toma um duche, bebe uns cafés e entra ao serviço! Pediátrica ainda por cima!! Provavelmente vais pensar: “Mas que raio de gente estava nesse casamento?!?” E eu respondo: era uma festa de casamento como outra qualquer, que decorreu algures no centro de Portugal, onde também havia velhinhos, criancinhas, casais, etc. Era uma festa de casamento normalíssima. As pessoas, Chico Esperto, principalmente muitas destas novas gerações é que estão a tornar-se cada vez mais esquisitas, para não dizer pior. E isso assusta-me. Eu nem sei se deveria ter contado isto aqui no blog. Se calhar é melhor retirares este comentário depois de o leres, pois é um pouco chocante.
Outra situação: uma vez fui ver o e-mail e no blog do iol estava em debate a possibilidade de sermos também avaliados pelos Encarregados de Educação. Resolvi espreitar. Foi a primeira vez que visitei um blog (o teu, por acaso, é o segundo ou terceiro que visito, pois não sou muito dessas coisas), mas continuando: o que lá li fez-me os cabelos em pé. Repara, aquilo era para ser lido, provavelmente, por professores e por Encarregados de Educação, pois havia lá comentários de ambos. Só que os erros de Português eram mais que muitos! Da parte dos professores! Da prte dos EE ainda se tolera. Lembro-me particularmente de um de uma colega professora que apelava aos colegas desta forma: “Colegas, unem-se nesta luta!” e havia mais de que não me lembro. O meu comentário foi: “Colegas, tenham cuidado com os erros!!!”
É por isso que eu penso duas vezes antes de discordar das medidas que se impõem, por exemplo, a quem pretender iniciar a carreira de professor, digo mais, ou de outra profissão qualquer que implique a segurança dos outros, a saúde dos outros, o bem-estar dos outros. E, no caso dos professores, os outros são crianças que irão absorver as nossas boas ou más influências, os nossos bons ou maus exemplos; que irão aprender connosco, que nos irão observar à lupa e tirar todas as medidas bem tiradas como só eles sabem fazer; crianças cujo ser integral vai lá conter as nossas marcas para o resto da vida, de uma forma mais ou menos vincada.
Em relação a ser professor... confesso que se eu fosse Ministra da Educação, ou uma manda-chuva qualquer lá perto, iria definir um perfil de professor, iria obrigar a muitos e complicados testes de conhecimentos e de personalidade a quem quer ser professor, talvez até a quem já é professor; iria definir dez competências gerais (ou vinte!) que um professor deveria ter desenvolvido no final do seu curso antes de vir ser professor. Daí que não haveria necessidade de fazer mais provas extra.
Educar é uma acção muito séria. Do nosso trabalho e do trabalho de milhares como nós que por este país/mundo fora levam a cabo a missão de ensinar e de formar, depende em grande medida o futuro desses a quem ensinamos e o futuro de todos nós...
Peço desculpa por estes longos (porventura demasiado longos e talvez inconvenientes) comentários. Um dia destes falamos e poderás dizer-me se preferes que deixe de dos fazer... Um dia destes...
Ah, só mais uma coisa: Maria Sabichona não pretende ser um pseudónimo pretensioso. Escolhi-o apenas porque achei que ficava engraçado para responder a um Chico Esperto.
Por agora despeço-me, agradecendo a oportunidade que me dás de escrever. Algo de que tanto gosto.

Maria Sabichona.

P.S.- Mostra-te agradável, franco, cooperante e prudente. Vai correr tudo bem.